Quando se fala em ocultismo e práticas sexuais, logo vem um único nome à mente – TANTRA. A doutrina hindu do desenvolvimento integral do ser humano nos seus aspectos físico, mental e espiritual por meios de meditação, mantras, yantras e sexo acabou sendo a mais conhecida para nós aqui no ocidente, principalmente em suas duas formas – o Vidya Tantra, ou tantra da Mão Direita, que foca exclusivamente na canalização da energia para o desenvolvimento do espírito humano; e a Avidya Tantra, ou Tantra da Mão Esquerda, muitas vezes à procura de poderes ocultos e à extroversão de energia psíquica sob forma de capacidades supranormais. Porém, existem outras formas de práticas ocultistas que envolvem o uso da energia sexual para atingir determinados fins. Uma delas, surgida no ocidente, foi tão famosa e tão atacada quando surgiu que a própria Helena P. Blavatsky acusou seu fundador de traição à Tradição Sagrada e o chamou de mais perfeito exemplo de Mago Negro. Estou falando dos Mistérios de Eulis e da Irmandade de Eulis.
Fundada por Paschal Beverly Randolph (1825 - 1875) , afro-americano, médico, ocultista, espiritualista, médium de transe, escritor e, de acordo com A. E. Waite, fundador da mais antiga Ordem Rosacruz nos Estados Unidos (em atividade até os dias atuais).
A Irmandade de Eulis (e seus mistérios) tem como seu objetivo primordial “a capacitação de seus discípulos a se tornarem donos absolutos de seu verdadeiro Eu, pois isso lhes dará a liberdade de seguir livremente em busca do aperfeiçoamento pessoal” (Magia Sexualis – Paschal Beverly Randolph). Essa capacitação só é possível ao indivíduo que se encontrar calmo, livre de influências externas. Já havendo exercitado a vontade e a paciência, com o espírito aberto e fortalecido pelas experiências, pois o não domínio de si mesmo no uso dos ritos de Eulis poderia resultar em loucura ou até mesmo, em casos extremos, morte. Pois o poder movido na Magia Sexual, segundo Randolph, “é a energia mais poderosa da Natureza, a maior prova de que Deus realmente existe.” (Magia Sexualis).
Em sua origem, a prática dos Ritos de Eulis é extremamente polarizada, focando exclusivamente na relação sexual homem-mulher (ignorando relações homossexuais) e geralmente com o homem sendo o agente energeticamente ativo e dominador de todo o ato, cabendo à mulher a função de ser a agente passiva/incubadora da intenção mágica gerada.
Porém, com o desenvolvimento da sociedade e das práticas, outros aspectos foram acrescentados aos ritos para que os mesmos se adequassem à todas às pessoas e situações.
Os Mistérios de Eulis creem que o Universo, composto de matéria e energia, é ordenado seguindo suas próprias leis e todos os seus poderes e virtudes são cíclicos. Que somos influenciados por emanações originárias de esferas espaciais, onde habitam tanto inteligências impalpáveis como sólidas e por energias passíveis de serem controladas pelas pessoas que conseguirem estabelecer as relações entre o material e espiritual. Que além do nosso mundo existem mundos elétricos, etéreos e fluídos, inexplicáveis, mas cuja comunicação é possível através do domínio da força sexual. Basicamente, por meio da Lei de Correspondência, é possível que você, durante o ato sexual, comunique a essas forças suas intenções e estas vão responder de acordo com seu desejo manifestado.
Porém, não é apenas o ato sexual que fará isso. Será seu estado de consciência e seu domínio das técnicas, além de outros auxílios como Condensadores Fluídicos, músicas, perfumes e outros itens, que farão essa comunicação ser viável.
Essas técnicas são praticadas à exaustão por meses, e apenas após seu domínio o estudante estará apto para a realização dos ritos sexuais dos mistérios de Eulis. Basicamente são quatro técnicas – Volição, o exercício da Vontade de forma tranquila, sem ser acometido por esgotamento nervoso; Decretação, a capacidade de ordenar de forma irrefutável, de sujeitar outros seres a desejar, pensar, sentir, dizer o que desejamos. Também é a capacidade de criar entidades que obedecerão à vontade do criador; Posismo, que é basicamente a Magia dos Gestos; e Evocacionismo, a capacidade de evocar entidades, divindades, inteligências e afins. Apenas depois de dominadas essas técnicas (o treinamento de Eulis leva mais de anos) é que a Magia Sexual passa a ser de fato aplicada.
Essa forma de Magia pode ser aplicada para qualquer fim desejado
– do mais iluminado ao mais mundano. O Magista apenas precisa definir qual forma de decreto, pose e evocação necessária para seu fim, o condensador fluídico ideal para facilitar, entre outras coisas, e realizar o ato até o orgasmo. E, diferentemente do Tantra, que visa a retenção do orgasmo físico, em Eulis esse é superestimulado, buscando o maior prazer, com maior intensidade, quantas vezes o por quanto tempo o magista aguentar. É exatamente o orgasmo que enviará a energia ao seu destino.
Bom, essa foi apenas uma introdução (de leve) sobre o assunto. Recomendo a leitura de Magia Sexualis, de Paschal Beverly Randolph com a mente aberta (lembrando que o mesmo ainda era muito absolutista no que se refere à polaridade e relação homem / mulher), antes de pensarem em se aventurar nas práticas (extremamente prazerosas) dos Ritos de Eulis.
Abraços fraternos