Conheça Jess Charaut, criadora do site O Sortilégio
Hoje tive o prazer de entrevistar Jess Charaut. Ela me contou melhor sobre sua formação e como se iniciou na bruxaria.

Lua Valentia: Jess, quando você sentiu o chamado para a bruxaria? Como foi este processo?
Jess Charaut: Desde criança minha mãe me pedia para cuidar das imagens de Seres Feéricos colocando maçãs e água limpa. Eu sentia um vinculo de amizade muito grande com esses seres. Pra mim, eles eram muito mais do que simples imagens. Eu tinha sonhos com Seres estranhos e de alguma forma eles tentavam uma comunicação comigo.
Além disso, sempre tive um espírito forte. Desde pequena nunca aceitei aquilo que julgava abusivo. Aos 9 anos criei um problema na escola ao me recusar a assistir aulas de religião. Eu achava (e ainda acho) aquilo desrespeitoso. Pois, se não era a única fé existente no mundo, então não deveriam lecioná-la como uma disciplina obrigatória.
Já na adolescência (há cerca de 17 anos atrás) uma amiga, ao observar minha íntima relação com os Seres Feéricos, meu infinito respeito pela Natureza e profundo interesse por feitiçaria, me apresentou alguns livro sobre Bruxaria. Foi quando me respondi ao tal chamado.
Lua Valentia: Você é formada em letras pela UFJR. Como sua formação ajuda a pesquisar mais sobre xamanismo, bruxaria e hoodoo?
Jess Charaut: A graduação em Letras me permitiu observar a parte dos registros históricos literários e linguísticos relacionados à Magia. Na faculdade, estudei 1 ano e meio de Grego arcaico e 2 anos de Latim, isso me possibilitou a criação de petições em línguas mais próximas histórica e culturalmente dos Deuses que eu cultuo. Afinal, assim como o Inglês é hoje a língua comercial no mundo, o Grego arcaico era a língua de comércio em sua época.
Eu dou muita credibilidade a livros didáticos de Magia, sabe?! Mas quando a bibliografia acadêmica se une à prática da Magia, encontramos uma fonte farta de conhecimentos!
Perdidas nos livros acadêmicos, e menosprezadas pelos pesquisadores leigos em Magia, encontramos preciosas informações de como os sortilégios eram lançados; e sobre o que era escrito dentro das cumbucas de contenção de seres maléficos; ou como determinados Deuses eram evocados; ou, ainda, quais ervas eram usadas na prática da feitiçaria. Podemos aprender, também, sobre alguns conceitos, sobre como era a pronúncia das palavras nessas línguas antigas; ou a idéia de “encantação”, no lugar de “encantamento”.
Lua Valentia: Quais são as diferenças e similaridades que você encontrou nestas três vertentes?
Jess Charaut: Em minhas práticas, a Bruxaria é o pilar que separa o Xamanismo do Hoodoo. Esses dois últimos são práticas bem distintas, mas se encontram, de certa forma, no fato de ambos contactarem o poder “mágico” das ervas. A Bruxaria, enquanto ferramenta para a prática da Magia (assim como o Hoodoo) é um poderoso recurso. Digo “enquanto prática”, e não “enquanto religião”, porque eu vejo a Bruxaria como algo mais tribal, mais ligado à Magia Folk. Respeito e entendo quem tem a Bruxaria como religião. Mas a Bruxaria, na minha vida, é um dom em exercício, um conjunto de práticas que levam a pessoa a um contato com habilidades de mudar o acontecimento das coisas a seu favor. Além disso, há uma parte da Bruxaria que podemos “linkar” com o Xamanismo. Isso tem a ver com viagens espirituais, como vemos nas lendas italianas Medievais sobre os Benandanti. Nessas lendas, era comum o “vôo” de mulheres ao encontro de Deuses. Eu vejo esse vôo como metafórico, como também o é no Xamanismo. Trata-se de um momento de êxtase (motivado por tambores e ervas) em que pessoas eram levadas ao contato com o divino.A parceria entre o Hoodoo e a Bruxaria só tem a contribuir. Isso porque há muita informação sobre feitiços e técnicas na Bruxaria, mas às vezes elas são contraditórias entre um autor e outro. No Hoodoo não há isso. Muitos conhecimentos e técnicas foram preservados. Conhecimentos do povo.Cada prática é o que é, e devemos respeitar isso. Porém, creio que quem tenta restringir o Hoodoo a ele mesmo, engana a si e aos outros. Devemos, antes, lembrar que o Hoodoo não foi formado por um só saber. A contribuição dos saberes indígenas norte-americanos e da Magia Folk européia também se fizeram presentes em sua formação. Assim é a Magia... Ela é fluida, e não castradora e cheia de tabus.
Lua Valentia: Quando você decidiu criar o site O Sortilégio?
Jess Charaut: O Jornal O Sortilégio em Março deste ano. Mas ele vem de um desejo antigo meu. Ele é a concretização da minha vontade de fortalecer a fé nas pessoas, de fazer com que, no meio de um mundo no qual as pessoas se sentem tão frágeis em si mesmas, fazer com que elas resgatem esses saberes e seus poderes inatos, aplicando-os à vida cotidiana... Na reza do filho doente, na comida preparada para seu amado, na lavagem de chão para tirar as energias ruins que guardamos em casa, ou no banho para aumentar seu poder de conquista, etc.
Lua Valentia: E o que podemos encontrar na sua nova loja?
Jess Charaut: Sim, O Sortilégio Store floresceu agora, na Primavera. Lá você encontra Óleos (para pactos, sedução, proteção, desenvolvimento na Magia, empoderamento feminino, maldições e muitos outras funcionalidades), compostos de Ervas para Banho e para Lavagens de Chão, e Velas. Eu tive o cuidado de usar ervas genuínas na composição dos meus produtos, ervas que são usadas tradicionalmente no Hoodoo (como o John Conqueror, o Devil’s shoe strings [Cadarço do Diabo], a Catnip, entre outras) e na Bruxaria (como a Mandrágora, o Dandelion...). Eu já faço óleos desde a adolescência e tenho uma mão muito boa para conjura. Guardo até hoje um frasco do primeiro óleo que fiz na vida. Já se passaram quase duas décadas e ele ainda guarda a
mesma fragrância extraída do Alecrim! Agora, porém, usado apenas como bibelô, uma lembrança de quando tudo começou.
Lua Valentia: Vi que você lançou agora na primavera produtos exclusivos para comunidade LGBT e também cuidados para crianças. Poderia nos falar mais?
Jess Charaut: Sim, O Sortilégio Store é a primeira loja brasileira de Bruxaria e Hoodoo a criar produtos exclusivos para atender ao público LGBT. É sabido que há ervas que atendem melhor (quando outras não) quando o assunto são questões românticas ou sexuais entre pessoas do mesmo gênero. Num mundo tão plural quanto o nosso, nada mais justo do que a criação de produtos que foram selecionados e conjurados, atendendo de forma específica a essa pluralidade.Também é uma inovação de minha autoria e exclusividade da loja a criação de um produto voltado para o cuidado energético-espiritual de crianças. E não poderia ser diferente, afinal, eu tenho dois filhos! Eu sempre trouxe recursos das minhas práticas religiosas para o exercício da maternidade, seja num banho para fazer parar pesadelos, para trazer paz, para tirar o mau-olhado ou num amuleto para trazer mais foco aos estudos... As ervas sempre me auxiliaram com meus filhos, e agora, eu disponibilizo essas ferramentas para que auxiliem outras pessoas também.
Veja alguns dos produtos que Jess está vendendo em sua loja:










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