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O que é Magia do Caos?


"Venera o Kia e sua mente será serena" - Spare

Sobre a Natureza do Caos

A energia fundante, o Infinito cartesiano ("de onde todas as coisas foram criadas inclusive eu mesmo"), o Caos dos gregos e o Caos dos magistas, o Chi dos chineses e o próprio Kia de Spare são forças que possuem em si mesmas as sementes de todas as coisas, sendo, portanto, amoral ou além de qualquer enquadramento limitante ou tentativa de ordenação. Todos esses nomes são meras tentativas frágeis de ordenar uma visão inordenável. A partir de agora, por motivos óbvios, chamarei esta "coisa" de Caos, pois este texto é ele mesmo uma tentativa impossível e eu também preciso de uma frágil definição.

O Cosmos por sua vez, está sempre mesclado ao Caos, pois é o Caos sua base fundamental (a própria Ordem tem sua origem no Caos). Para efeito apenas de ilustração, escolhi para o Caos a cor preta, e para o Cosmos a cor branca com pintas pretas, pois o Cosmos sempre estará mesclado ao Caos.

Uma vez que o Cosmos está sempre cheio de Caos, essa integração é aleatória e formada por formas-pensamento, ideias, construções mentais, hábitos, emoções, traumas, alegrias e crenças. Tudo isso são as sementes que irão definir os aspectos materiais do Cosmos. Como estamos a todo momento lançando essas formas-pensamento, este Caos que nos é mais próximo (e também essa Ordem) está sempre infectado.

Cosmos e Caos

A partir daqui defino o Cosmos, como pode ser percebido, como uma invenção puramente humana, seja em seus aspectos culturais ou materiais. É uma invenção que apenas existe na mente, uma vez que a própria realidade, como sugeriu Immanuel Kant, é uma construção do sujeito, estando ela mesma além de nossa compreensão.

Aquilo que se apresenta a nós é construção, mesmo as estrelas e o próprio tempo. Tudo é Caos, do início ao fim, e a Ordem é uma folha voando nos ventos Infinitos (onde nos agarramos com unhas e dentes). Por todos esses motivos, o treinamento do magista deve necessariamente passar pelo autoconhecimento, controle da mente e desconstrução de valores.

Banir as sementes impuras e encher o coração e a mente com a ideia do Puro Caos é necessário para lançar sementes intencionais, seja na forma que for: sigilos, servidores, mantras, orações, visualizações ou pura intenção. A partir de então, este Puro Caos absorverá a ideia presente na mente do operador ou no ambiente (como absorve tudo o mais). Contudo, neste caso, ocorre o lançamento de uma semente de forma intencional. Por isso a grande importância do ritual, que por um lado pode ser um elaborado psicodrama com velas, música, símbolos e gestos, e por outro, dependendo do treinamento do operador, pode ser uma simples ação intencional feita no meio da rua.

Implicações

Esta ideia, se for considerada, implica no fato de que o Caos e Cosmos estão sempre interagindo a todo momento. Nós mesmos, dependendo de nossa disposição mental e humor, estamos lançando sementes a todo momento. Por outro lado, o ritual (com sua marcação forte de início, meio e fim) traz em si mesmo a consciência desse fato — coisa que não existe no transeunte com seus pensamentos vagos e suas crenças lançando sementes involuntárias.

Ora, não é possível evitar que se pense nas coisas da vida, mas é possível dizer: "a partir desse momento, elimino todos os pensamentos e invoco a energia fundante da realidade". Será depois disso que o desejo forte será evocado em nossa mente, impregnando o Puro Caos com nossa vontade direcionada. Depois disso o rito termina e voltamos a nos agarrar nesta coisa inescapável chamada Ordem.

A Crença Instrumental

Tudo isso implica no uso instrumental da crença, algo que considero a grande contribuição filosófica da Magia do Caos: a força está na crença em si, e não no que se acredita. Isso faz com que qualquer crença possa ser utilizada, de acordo com a afinidade do operador. Assim, níveis mais profundos do subconsciente podem ser acessador através da empatia. Como afirmou o pai da personagem Elizabeth Shaw no filme Prometheus: "Acredito nisso pois escolhi acreditar." Existe um abismo de diferenças entre acreditar em algo imputado pela cultura e acreditar em algo de forma intencional.

Se o Puro Caos de fato tiver essa natureza neutra (escolhi acreditar nisso), então algumas meditações esotéricas e orações religiosas acertam errando, gerando seus milagres e sincronicidades. Por exemplo: ao imaginar que uma certa energia mística é benéfica e atua em nossas vidas através de alguma crença ou técnica, na verdade, nós é que estamos carregando essa energia neutra do Puro Caos através da crença.

A força da crença está na sua potencialização intencional (neste caso, realizada através do Puro Caos). Ela mesma não tem esse poder milagroso, a não ser como uma interface empática. Compreender esta ideia causaria terror em qualquer crente fanático de qualquer religião, por isso mesmo (e muito sabiamente) estas coisas estão inseridas em uma categoria chamada ocultismo, para satisfação geral de todos.

Pensei em escrever um parágrafo final alertando que todas essas coisas que escrevi são pessoais e experimentais, mas não consegui encontrar palavras melhores do que um de meus filósofos favoritos.

"Deste modo, não é propósito meu ensinar aqui o método que cada um deveria seguir para bem orientar sua razão, porém somente demonstrar de que modo eu procurei conduzir a minha. Os que se propõem a oferecer normas, devem considerar-se mais capacitados do que aqueles que a recebem. Contudo, propondo-se este escrito apenas a ser uma história ou, se quiseres, uma fábula, na qual dentre alguns exemplos que mereçam ser imitados, pode ser que se achem outros que seja melhor não seguir, espero que seja ele útil a alguém, sem causar mal a quem quer que seja, e que todos se sintam gratos a mim pela minha franqueza."


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