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O dia em que conversei com Saturno.

O dia em que conversei com Saturno.


Um dia, lembro de estar sentada, o piso era de madeira, eu estava com o cabelo preso e presa dentro de uma grande biblioteca escura e marrom, haviam livros que eu não conseguia ler e eu até hoje não sei do que se tratam.


Livros de capas verdes, vermelhas e predominantemente azuis.


Lembro de haver uma escada e ela levava ao topo dos livros, mas eu continuava ali, sentada, estática.


Então vi um senhor, a barba que era enorme e cinza, o rosto pálido, tudo extremamente pálido nele, eu lembro que ele conversou comigo e disse


“Filha, você tem muito o que aprender ainda, mas o tempo irá te ensinar”.


Eu continuei sentada, enquanto ele andava pelo local, ele mexia em livros, pergaminhos e papeis escuros, na sala tinha uma janela escura e parecia não ser possível descrever o tempo do outro lado.


Eu olhava atentamente o que ele fazia, enquanto ele me explicava sobre coisas (que após acordar eu não faço ideia do que foram), sempre com calma, às vezes impaciente.


Eu não conseguia falar absolutamente nada, não podia me levantar, eu só assistia, sem lembrar de nada do que ele estava tentando me dizer.


Recordo-me de fechar meus olhos, enquanto ele olhava para mim e de repente eu nunca estive naquele lugar. Havia acordado de algum sono.


Não demorou muito para que eu voltasse a ver esse senhor.


Agora em uma outra ocasião.


Eu lembro de estar andando em uma cidade, o piso de pedra irregular, bastante tom de verde nas casas.

Ao entrar em um local, busquei um texto específico, não o encontrei.


Por algum motivo, precisava daquele texto, mas em alta frustração, não o encontrava.


Naquelas ruas, naquela praça pálida e cinza, eu sentei e observei até lembrar de um sebo antiguíssimo, onde lembrei já ter visto livros de línguas mortas.


Ao chegar lá, sou recebida por esse mesmo senhor, ele já me esperava há algum tempo, pelo jeito que me recebeu, apenas me entregou uma dúzia de livros e me acompanhou enquanto encaminhávamos.


Lembro de não conseguir olhar, ele era alto, mas seu rosto era uma incógnita, quanto mais eu tentava olhar, menos eu conseguia e menos lembrar do rosto eu podia.


Ele me guiou até o fim de uma rua estreita e disse “Minha filha, o tempo vai te ensinar, infelizmente, eu não posso te ensinar tudo o que quer saber, mas eu gostaria. Não dessa forma.”.


Não demorou muito, para que, uns meses depois, andando na rua de uma cidade onde morei quando muito criança, reconheci a rua, o sebo, mas o senhor não estava lá e os livros vendidos, que antes eu não podia ler as capas, agora eu via, tratavam-se de quadrinhos dos anos 90, em suas versões em inglês.


Sai da loja sem entender, sem lembrar direito, até que sonhei, naquela noite, que estava sentada no centro de um mundo completamente escuro.


Ao meu redor, todos os planetas, na minha frente, saturno, à minha esquerda júpiter e a minha direta plutão.


Saturno disse: Finalmente podemos conversar, apropriadamente, agora.


O som ecoava, não haviam olhos, boca, nariz, eram apenas os planetas e eu no centro e cada voz era dada por um planeta diferente.


Eu nunca soube o que me foi dito aquele dia e nunca quis entender o significado do sonho.


Mas de fato, nesse dia... Eu falei com saturno.


E o que eu conclui é que: eu ainda tenho muito o que desenvolver.


E esse foi o maior conselho que eu guardei nesses anos.


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